Gorda&Sapatão nos braços de Salvador pede licença pra chegar e somar


Já estou há 3 meses em Salvador e meu amor por essa cidade e as pessoas que a compõe tem só aumentado. Por aqui eu fui – e continuo sendo- muito bem recebida por onde passo, e certa de que meu afeto é recíproco e caloroso, que me faz conhecer pessoas extremamente maravilhosas e queridas. Sabe aquela sensação de estar no lugar certo? “Eu deveria estar aqui”, pois é isso que tenho sentido constantemente. E esse sentimento de pertencimento a uma cidade da qual não conhecia se dá muito pela identificação primária com as mulheres pretas daqui. Todas essas que conheci e pude abraçar, me transmitiram uma força ancestral e potência máxima da qual têm se acumulado em mim e faz mover por essas ladeiras até então desconhecidas.

Já faz tempo que guardo um desejo -que agora mais definido- a respeito desse blog aqui: eu gostaria muito que fosse colaborativo! Isso mesmo, colaborativo-coletivo. Antes, em São Paulo, eu realmente estava imersa em escrever de dentro pra fora, ou seja, do que eu vivia e pensava transpondo em escritas. Agora, amadurecido o desejo que já havia despertado na terra da garoa, confirmo a vontade de abrir esse espaço completamente. Muitas vezes recebo mensagens se referindo a mim no plural “Oi eu adoro o trabalho de vocês”, e ficava pensando de onde as pessoas tiraram que esse espaço é feito por mais de uma pessoa… Talvez pelo fato de abordar diversos temas possa dar a entender isso, ou colocar fotos diversas… Não sei exatamente o que impulsiona essa identificação, mas nunca me incomodou, na verdade foi muito por causa dessas abordagens que, de certa forma, me cutucaram a pensar sobre o que eu quero e espero fazer desse espaço. Chegando em terras soteropolitanas e conhecendo as feministas pretas, as sapatonas, enfim, vivência e toda essa circulação política viva, foi se estruturando em mim a necessidade de abrir o blog.

By Paulo Cordeiro

By Paulo Cordeiro

 

Esse espaço já não me cabe mais, ele se transpôs ao que eu sou; representa muitas lésbicas, muitas pretas, muitas gordas, muitas sapatonas. Foi fio condutor para tantas transformações pessoais.  Não sou só eu. Por isso o plural, com certeza, se adequá exatamente bem agora. É minha vontade transformar esse humilde bloguinho num espaço coletivo, com textos de diversas autoras, de todas as partes desse país; com poesia e música, com artes visuais que nos represente verdadeiramente  e que sejam feitas por nós mesmas, no intuito de espalhar nossas capacidades e expertizes múltiplas que, não raro, repousam num véu de invisibilidade que precisa ser rasgado até o fim, sem possibilidade de remendo.  Sabem o Blogueiras Negras?Então! Meu maior espelho e também um desafio tremendo sustentar um espaço virtual robusto e engajado diariamente. Mas é em quem me inspiro pra responder “o que você quer fazer com o blog”. É isso, quero que ele seja de outras também, no sentido de falarem enquanto escritoras do blog Gorda&Sapatão, qualificar e elevar esse espaço de forma a contribuir pra uma verdadeira democratização da comunicação, da pluralidade de conteúdos, diversificar e propor outras formas de escrita; ter mais gente para se espelhar e fortalecer. É isso que eu quero, basicamente.

A PROPOSTA

O mês de agosto é celebrado o Dia da Visibilidade Lésbica, 29 de Agosto, e nada melhor do que oficializar a abertura do blog neste mês! Fazendo parte da programação do Sapatonize Agosto, que consiste em promover a visibilidade lésbica negra na cidade de Salvador, vai rolar uma roda de conversa de apresentação na casa do Instituto Mídia Étnica, mas eu já vou adiantar o convite por aqui para que possamos dar o ponta pé inicial neste mês com a publicação de textos, poesias, artes pretas lesbianas que versem sobre afetividade. A escolha desse foco se deu por sempre falarmos da nossa invisibilidade sapatona em todas as esferas da sociedade, no entanto, falar sobre afetos é de suma importância para combater essa mesma invisibilidade que nos assola constantemente, pois estamos vivenciando diversas formas de relacionamentos – de namoros à amizades- e isso se configura numa rede de apoio mútuo entre lésbicas como resistência ao sistema racista e heteronormativo de estabelecer as coletividades.

Lésbicas negras pautando seus afetos é uma forma de nos colocarmos no palco da história, em primeira pessoa, resgatando nossas trajetórias e mostrando – a nós mesmas, principalmente-  que estamos SIM produzindo muitas coisas, muitas formas de existir e resistir diante de todas as opressões diárias; estamos em movimento, em expansão sensorial do quem somos, desse significar lesbiano preto numa sociedade racista. E registrar nossas histórias, se configura numa ação direta contra a heterossexualidade compulsória, o machismo, o racismo que mata cotidianamente e de diversas formas; é também mostrar à outras de nós que estamos em todos os cantos e contamos nossas próprias vivências, contribuindo para fomentar nossa própria ciência de viver, combatendo epistemicídio e produzindo outras formas de questionamentos , empíricos, políticos e persistentes.

 

 

by insomnia

by insomnia

 

 

COMO PARTICIPAR:

Manda um email para [email protected] com o seu texto, sua poesia, seu conto, enfim, manda seu escrito afetivo, pode enviar também alguma foto, imagem que queira usar para ilustrar; se não tiver, não tem problema, tá?!  Vou recebe-lo com carinho, buscar ilustrações que dialogue com o texto e publica-lo aqui no blog e nas redes sociais. Você pode acompanhar tudo pelo facebook com a hastag #SapatonizeAgosto.

 

 

 

ACOMPANHE

Odara- Instituto da Mulher Negra  
Revista Afirmativa
Gorda&Sapatão
Instituto Mídia Étnica

 

 

 

 

visibilizar nossos amores e inspirar outras de nós!
Sapatonize Agosto, fancha!
<3

 


Imagem destacada: DarlingRomeo on Pinterest