#SapatonizeAGosto: Minha palavra preferida é sapatão


Minha palavra preferida é sapatão, soa muito bem aos meus ouvidos. Gosto de algumas outras derivações dela também: sapatilha, sandália e botina (tudo calça!). Mas gosto de outras palavras que se referem a mulheres que amam mulheres como machuda e caminhão. Lembro até hoje um dia que fui comprar cigarro e uma amiga por quem eu era apaixonada falou: – Você fuma carlton?! Depois não reclama se te chamarem de machuda. Meu coração deu pulos e mais pulos de alegria!!!
Em outras línguas, com direito a trocadilhos, eu gosto de torta, tortillera, soldadora, arepera (adoro arepas!), bollera, machorra e marimacha no espanhol. Alias eu associo marimacha a Maria Sapatão e machorra a machuda, sempre! Em inglês dyke soa interessante, sempre imagino uma sapatão de moto com roupa de couro com vários bottons. Só essa porque não gosto muito de inglês. No francês soeurs, Claudines, gouine, gousses, de la pelouse e du gazon. A pronuncia de gousses me lembra gozo.
Mas só recentemente me dei conta do porque essas palavras me agradam.
São palavras que não fazem parte de um dicionário formal. Elas são populares, correm à margem do sistema que é completamente heteronormativo. E nós, sapatões, corremos por fora do sistema também. Apesar de parecer haver um consenso de que uma lésbica política é uma lésbica ativista/militante, creio ser muito político simplesmente (nem é tão simples assim) não se relacionar afetivo-sexualmente com homens numa sociedade regida pela heteronorma e pelo patriarcado. Aparentemente uma visão muito reducionista do todo, mas quem dava a cara a tapa desde antes da popularização da discussão sobre “expressão de gênero”, “gênero neutro” e outras, eram as botinas, que o diga as décadas de 1980 e 1990! Aqui vale a máxima da segunda onda feminista “o pessoal é político”.
Outro fato interessante é que palavras como sapatão, tortillera, dyke e gouine são inicialmente utilizadas para ofender as machorras e, novamente, é realmente político a apropriação e resignificação desses termos pelas próprias caminhoneiras! Qual de nós nunca quis tirar foto na boleia de uma scania e postar nas redes sociais das quais fazemos parte?!
Talvez seja o orgulho de toda essa resistência política que me faz gritar junto com a Mc Sabrina “aí vocês vão ver porque me chamam de machado” toda vez que eu ouço o funk Morador de Favela. Mas é isso, não tenho certeza de nada, são só meus achismos e eu acho muito de muita coisa!
Ariana Mara (porque sou dessas!) da Silva
Mestranda do PPGNEIM-UFBA