Racismo nosso de cada dia: Sobre o 3º Fórum Fale Sem Medo – Instituto Avon


Sobre o 3º Fórum Fale Sem Medo – Violência Contra a Mulher no Ambiente Universitário #textão #falesemmedo

Evento que foi puxado pelo Instituto Avon para apresentar os dados da pesquisa sobre violência contra mulher na universidade e outros debates acerca disso. A começar pelo homem que apresentou os resultados da pesquisa. Se quer se deram o trabalho de pensar numa mulher para apresentar aqueles dados, que continham muito de vivência do que qualquer outra coisa. Nesses resultados, nenhum recorte racial foi feito nem pra falar que o RACISMO é o que estrutura toda essa violência. Nem lembraram. A única que falou algo mais contundente foi Ana Flávia d’Oliveira, que disse que o padrão de estuprador é de um homem negro, pobre, que encurra-la mulheres no beco. Só citou isso bem de leve, não fez nem cosquinha. Os números apresentados são realmente alarmantes, mas falar de qualquer violência sem falar do que estrutura ela todinha, é contraproducente e só favorece o racismo brasileiro.

Desmistificar o imaginário social racista é urgente! Dizer superficialmente que são ~alunos~ e professores que cometem inúmeros abusos não é suficiente, é preciso falar que existe racismo sim e é por isso que as pessoas custam a acreditar na palavra das mulheres, por vezes! Não entra na cabeça das pessoas que o branco universitário “bom moço” faria algo assim, estuprar mulher bêbada. Mas nem tocaram nesse ponto. Lógico, as mesas foram compostas por mulheres brancas e toda a pesquisa, resultados e organização do evento não foi pra isso; foi só pra tratar superficialmente de uma consequência, como quem usa mertiolate no arranhado do joelho sem tirar um raio-x pra ver o quanto fraturou.
Novamente, iniciativas de grande porte, com potencial de atingir sei lá quantas mulheres, não carrega a questão racial junto da questão feminista, nem de violência.

O feminismo branco… Ahh como ele é excludente, viu!
E ainda tem a pachorra de botar uma pretinha no flyer, nos livros que distribuíram lá como kit de informação. Ainda agem como se fôssemos adornos, enfeites de encaixe, meramente ilustrativas! Apagamento e desumanização: Nossa cara preta querem, mas falar da estrutura racista que alimenta o machismo&CIA, isso não querem! Gerar reflexão do que tá por trás daquilo tudo que foi pesquisado e falado, numa ação propositiva anti-racista de visibilizar isso, não querem não.  Muita hipocrisia e oportunismo colonial isso cheira, viu.

 

Fale sobre racismo!

Fale sobre racismo!

Fiquei indignada com a fala da Astrid Fontenele, dizendo que as mulheres é que precisam educar direito seus filhos, reforçando a responsabilidade da mulher na criação dessa criança, porque ngm falou de pai, irmã/o, avô… A responsabilidade é da mãe! Foda-se que mãe é essa. Que infeliz colocação, gente. Não acabou por aí e logo ela me solta que o nosso país é tropical, biquini, mulheres de shortinho e comoassim ainda somos oprimidas?!~… Uma visão racista que a gente conhece muito bem! E muito reducionista, descolada da realidade. Fiquei me perguntando o que ela tava falando ali… Falando aquelas coisas, não entendi realmente. Tanta mulher apta pra passar uma informação de combate ao machismo, daí ela vem com essas ideias tortas supostamente empoderadoras!
A cereja do bolo foi talvez ela dizer que a “Universidade é nossa”. Nossa quem, cara pálida?!! Sete por cento dos estudantes da USP são negros/as. Mas nada foi mencionado não. Nem daria pra falar nada com aquele debate feito de perguntinhas rabiscadas num papel, e as convidadas ilustres respondendo, como se a plateia nada tivesse a colaborar; não foi um debate em si. Logo em seguida, pra fechar com chave de ouro, um homem branco cisgênero dos Estados Unidos. Eu fui embora. Aliás, só estive ali por uma questão de trabalho mesmo: resolveram chamar a pretinha da favela pra um hangout durante a manhã de hoje, Luana Hansen foi lá e representou como sempre a voz das que estão às margens por imposição! A única voz dissonante nesse coro de Alice no país das maravilhas batendo palma pra gringo ver.

Nós mulheres negras só fomos citadas como exemplo em duas falas, da moça do coletivo Geni da Medicina, Ana Luiza, e da professora da USP, Ana Flavia, frisando nossa presença nos empregos subalternos. Nada muito questionador da ordem… bem por cima mesmo. Sempre somos exemplos do que é ruim e indesejado. Somos representatividade nas estatísticas todas e  assim fazem questão de nos manter lá! Ninguém se mexe, não! O bom mesmo é fazer evento grande, bombar de gente conhecida nos advocacy empresarial da vida e já era!
Vida que segue, não é mesmo. Enquanto a gente morre nas mãos desse Estado genocida e sanguinário, que essa semana foram 5 jovens negros  a menos na nossa conta! E as pessoas ainda se dão ao luxo de falar de violência contra mulher e não falar sobre racismo. Como se pudéssemos dissocia-los nesses debates, como algo isolado. Isso não me serve, menos ainda me representa em qualquer esfera.

Racismo, o velho racismo de sempre.
A velha- nova ideia de que vão combater as opressões sem falar de racismo. Boa sorte aí pra vocês, embolsando várias milhas enquanto a gente morre. Parabéns por colaborarem com nosso genocídio simbólico e reforçarem o racismo institucional, que tem por consequência, a matança de corpo negros.

Feminismo branco acha que vai salvar o mundo capitaneado por empresas!