Gorda&Sapatão no seminário: ‘Diálogos: Democracia e comunicação sem racismo, por um Brasil afirmativo’.
À convite da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), participei do seminário “Diálogos: Democracia e comunicação sem racismo, por um Brasil afirmativo”, que aconteceu nos dias 29 e 30 de Maio, em Brasília.
O objetivo do encontro era de debater a Comunicação Social no Brasil, no que tange à diversidade e o combate ao racismo, além de discutir medidas que contribuam para que o país alcance uma comunicação democrática e plural, por meio do fortalecimento das mídias negras.
Sim, eu fiquei muito feliz com o convite porque isso demonstra uma atenção àqueles que estão produzindo algum conteúdo anti-racista, mesmo que em ~pequenos~ espaços (como este bloguinho). Confesso que quando veio o email de convite, fiquei meio confusa e me perguntando “Porque eu?!”. Entendo esses seminários promovidos pelo Governo Federal, como espaços de destaque em algum segmento… Mas quando cheguei lá, conheci pessoas que não eram administradoras de grandes portais. Conseguiram juntar várias fontes de atuação no combate ao racismo: desde professoras doutorandas em comunicação social, até administradoras de páginas anti-racistas no facebook (o que veja bem: não é um espaço pequeno).
A comunicação é uma das questões mais difíceis de ser acessada no combate ao racismo, porque temos uma estrutura de dominação dos meios que é, exclusivamente, vinda de famílias monopolizadoras (família Marinho, Saad e Abravanel e outras, estamos de olho!), que formulam a opinião das massas 24hrs. Em resumo: elas detém o poder.
Produzir e gerir meios de comunicação (Rádio, Tv, Impressos, Internet) nada mais é que ter poder de influência na esfera pública&privada da sociedade. Isso é poder. Essas grandes famílias que controlam toda a mídia brasileira não largam esse osso porque justamente, sabem que influenciam diretamente as eleições, por exemplo; influenciam ideias do que é certo e do que é errado, do que é aceito e do que não é aceito socialmente. Quem detém os meios é quem controla as informações. E isso tudo é benéfico, além de render bilhões em dinheiro, claro… Mas é por aí que temos ideia de como demarcar espaço político nos meios de comunicação é altamente necessário: O conteúdo produzido e veiculado na mídia hegemônica estabelece SIM uma demarcação de posição política, uma vez que está à serviço da manutenção de uma estrutura capitalista e anti-democrática no Brasil. Perder essa dominação é dar espaço para a democracia de Direito, é dar espaço à progressos que são mais que necessários. É dar voz àqueles e aquelas que são diretamente afetados por essa comunicação racista, elitista, classista, e opressora no geral.
Por isso que fortalecer mídias negras (aquelas que são produzidas e mantidas por pessoas negras) é fundamental para o combate ao racismo. A luta anti-racista precisa estar presente em todos os meios de comunicação e para tal, precisamos que haja a dissolução do monopólio do meios. Profissionais de Jornalismo, que se propõe atuar numa linha de frente progressista, visando colaborar com a diversidade que temos em sociedade, não tem espaço nas grandes emissoras e nos grandes jornais que dominam as teles e as bancas de revistas. Estão em situação de esquecimento e nenhuma visibilidade. E o que dizer de jornalistas negras/negros? Estes, principalmente, sentem a dificuldade de inserção no campo de trabalho jornalístico, ainda mais quando é para lutar por pautas anti-racistas.
Ter assistido a palestra da Ana Flávia me tocou muito… Durante muito tempo eu fiquei com uma certa fixação pelo curso de jornalismo, e assim que tive uma oportunidade, ingressei no curso. Foi uma frustração tão grande que eu não soube lidar. Sai do curso e fico reticente quando me perguntam se eu ainda volto a cursa-lo um dia. Acredito que não, mas por outros motivos que nem cabem aqui. Mas veja, eu se quer cheguei perto de conhecer alguma fonte que mencionava a existência de uma mídia negra no Brasil, quando estudava. Nada me foi passado. Nada me foi dito ou insinuado. Começamos a saber mais sobre a história do Jornalismo através dos idos de 1808, com a chegada do princípe regente e tudo que isso significou de avanços e blablabla; falam [no curso] dos tais primeiros jornais brasileiro “A gazeta do Rio de Janeiro” e o “Correio Brasiliense”. Nada da produção negra. E o interessante disso é que a Ana Flávia apresentou, brilhantemente, alguns dos jornais que existiram também na mesma época, cujos títulos e autores, ninguém se quer lembra na hora da aula. A imprensa negra é apagada nos cursos de comunicação social, negligenciada e sumariamente ignorada.
A apresentação dela me tocou muito porque eu não tive chance de conhecer ESSA comunicação social. Esse jornalismo. Então, eu me formaria uma profissional da comunicação social sem ter noção da história crítica que meus antepassados construiram.
Eu não registrei todo o acervo fotografico que foi exposto na palestra e a Ana Flávia também não pode levar tudo o que tinha resgatado, pois existe muito material e o tempo de apresentação era limitado. Mas tudo o que ela nos apresentou, já foi o sucifiente. Foi o suficiente para ver, mais uma vez, como o racismo é perverso e não dá ponto sem nó. O surgimento da imprensa negra acompanha o surgimento do jornalismo no Brasil, 1808, e o 1º jornal voltado para a denuncia do racismo (ou “preconceito de cor”, como era chamado) foi “O Mulato” em 1833, no Rio de Janeiro. E partir de então, do século 19 ao 21, a imprensa negra vem produzindo conteúdo sem qualquer tipo de visibilidade e se quer algum apoio.
Em nenhum momento a imprensa negra e as pessoas negras se calaram frente ao racismo, no entanto, sofremos até hoje tentativas de silenciamentos, como declarou a Ana Flávia na palestra. O trabalho dela e de toda a rede que viabilizou que ela pudesse desenvolver essa pesquisa, precisa urgentemente tomar as pautas das nossas publicações. Resgatar a história da imprensa negra no Brasil é adentrar por uma porta de acesso de luta contra o racismo que mostra por A+B o quanto o racismo tem inviabilizado a existência negra no Brasil. O legado que a mídia negra nos deixou é altamente impactante e gerador de estratégias de luta. Por isso se faz de extrema importância, trabalhos como o de Ana Flávia, que colaboram para que que essa memória não seja colocada mais no esquecimento.
Leia mais >> “A imprensa negra nunca se calou frente ao racismo”, diz pesquisadora
O seminário foi um importante espaço de convergência de ideias e exposição de realidades múltiplas. Saí de lá com o termômetro do pertêncimento político mais esquentado. Nós, participantes desse seminários, estamos todos no mesmo barco e remando contra a maré, e o mais incrível é que tá todo mundo remando junto! Na luta contra o racismo, na lutra contra o monopólio dos meios, na luta pela preservação dos nossos ancestrais. Isso tudo só fez recarregar minhas baterias para continuar na briga. E iremos até o fim! Enquanto a tal da democratização da mídia não se fizer concreta, continuaremos a incomodar.
Eis abaixo alguns espaços que vocês precisam conhecer, tipo, AGORA! Se liga…
O Literatura Subversiva é um blog que “com o objetivo de divulgar a produção literária de escritores(as)poetas e poetisas afro-brasileiros (as),afro-americanos(as) e de países lusófonos do ContinenteAfricano” como defina Ana Paula Santos, administradora da página. O espaço é rico em escrita preta, com vários textos diversos. Reserve um tempo para conferir tudo que essa mulher publica no blog e faz com que a nossa história se mantenha viva.
Indiretas Crespas é uma página no facebook que mostra toda a beleza dos nossos cabelos: crespos! E absolutamente LINDOS! Uma ação direta contra o racismo que nos impede de enxergar a beleza dos nossos fios, Carla Ferreira publica com afinco, fotos deslumbrantes das pessoas negras que você não vê na televisão e menos ainda em comercial de creme pra cabelo. Então, entra lá na página e se sinta representada, como eu me sinto toda vez que apareço lá.
A Revista Omenelick 2º Ato nada mais é do que um infinito quilombo cultural contemporâneo, um caldeirão de ideias e informações onde pensadores e protagonistas da produção artística da diáspora africana, e das culturas popular e urbana do ocidente negro, tem sítio para compartilhar seus traços, laços e desembaraços. Nem ousei mexer nessa definição porque está perfeita e já dá vontade de conhecer a revista.
Existe a página da revista no facebook e seria massa se você conhecesse esse espaço. Vai fundo que a produção é maravilhosa!
Blogueiras Negras pra quem não conhece, é um coletivo que reuni mais de mil mulheres negras que escrevem suas histórias e suas lutas. Esse coletivo maravilhoso chegou para marcar a web no quesito visibilidade da mulher negra na mídia escrita. É incrível participar desse espaço e construir juntas essa mídia que é feita POR mulheres negras e PARA as mulheres negras, e também pra esfregar na cara dessa sociedade nojenta todo seu racismo. Curta a página das BN no facebook, vai, não pensa duas vezes.
Desabafo Social foi criado por Monique Evelle, quando ela estava no 3º ano do ensino médio e hoje conta com jovens e adolescentes de vários estados compondo esse espaço. O projeto tem por objetivo “transformar a realidade através de ações estruturadas e intencionais, sempre trabalhando nos viés dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes, Cultura e Educomunicação.” Ou seja: É FODA! Passe várias horas fuçando no site do DS -> www.rededesabafosocial.wordpress.com
Indigestivos Oneirophanta é o espaço criado pela Charô Nunes, que também organiza o Blogueiras Negras. É um site com textos fuminantes para os racistas de plantão! Sugiro:::::::: TODOS OS TEXTOS! E tô aqui torcendo para que a Charô publique mais e mais de seus pensamentos e anotações que são tão caros e de extrema importância para o debate anti-racista na web. Uma campanha #escrevecharô ™
Mídia Periférica é da quebrada, é dos mano e das mina, é a cultura que nasce na periferia e que só chega a ser valorizada quando algum branco “”””descobre”””” e leva pra outros espaços. Mídia Periférica é tudo aquilo que você não vê cotidianamente na mídia. Por isso, sugiro que você saía dessa mesmisse e conheça esse grupo de jovens comunicadores que estão comprometidos com a luta anti-racista na mídia. O MP tem blog e você deve acessar aqui oh –> https://www.facebook.com/midia.periferica
Projeto Azuelar – mídia de terreiro: Aposto que você não conhece esse espaço. Claro que não! A intolerância religiosa na mídia é tão ferrenha que impede que trabalhos como estes, sejam minimamente divulgados. O Projeto Azuelar nasceu no Instituto Nangetu atua a favor da conservação e do fortalecimento da identidade da cultura tradicional de origem Bantu, constituindo um espaço importante de resistência do legado cultural do povo negro africano na cidade de Belém. Uma ferramente preciosa que temos para manter a cultura negra sempre presenta. Então faça o favor de conhecer! Acessa o facebook do Projeto Azuelar e o blog do Instituto Nangetu.
Vlog “Ta Bom Pra Você: é outro espaço de protagonismo de pessoas negras na web. Sim! Um vlog com mulheres negras protagonizando, com debates importantíssimos acerca do racismo e demais questões pertinente à nossa cor. É maravilhoso o espaço e todo mundo precisa conhecer! Deixa pra lá esses vloggers famosos que de nada contribuem para extinguir as opressões na sociedade brasileira, eles só corroboram com elas! Então, acessa o canal Ta Bom Pra Você no Youtube e se INSCREVA! Além de divulgar os vídeos pros colega no site feices, combinado?
Última indicação e não menos importante: Cultne – acervo digital de cultura negra. Sim, também existe porque as pessoas negras estão aí resgatando a todo tempo a história que nos pertence, e que querem apagar de nós todas conquistas e feitos, afim de nos colocar sempre num patamar inferior por conta de nossa cor, de nossas lutas, de nossa cultura. Esse espaço é rico em cultura negra, aglutina vídeos de diferentes tipos num único lugar. É onde eu acesso meu vídeo favorito que finalizo esse post. Toda vez que ouço esse canto e essas mulheres negras falando, me arrepio toda, choro. E só tenho a agradecer à equipe Cultne por manter firme esse espaço político de resistência que muito me empodera e não me deixa esquecer de tudo que já passamos historicamente e, não me deixa esquecer que as pretas e os pretos estão em movimento constante, que nunca pararam apesar dos racistas dizerem o contrário. Assistam!