De mini-saia e vestidindo, um beijo pra vocês!


Já perdi as contas das vezes que eu me olhei no espelho e senti um puro desgosto do que estava refletido. Foram muitos os momentos em que eu simplesmente não queria sair de casa e inventava algum motivo qualquer pra disfarçar minha insatisfação pessoal… com as minhas roupas, com o meu tamanho, com a minha (in)segurança. 

Já tem um tempo que eu não sinto isso, mas me recordo muito bem dos dias amargos que se passaram na minha vida, para que atualmente, eu goste da minha imagem no espelho.

Lidar com a (baixa)auto-estima é uma problemática, principalmente quando você não se enquadra nos padrões sociais estabelecidos para uma mulher. A exigência de si mesma é ferrenha e nunca dá trégua. Por isso o cuidado para que ela não se transforme numa depressão é iminente.

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Como uma boa criança criada na heteronormatividade, cresci sendo a ‘amiga-irmã’ dos meninos, a ‘parceira de todas as horas’, a ‘ fiel amiga’ 
[ad infinitum]. E por ser gorda, não vislumbrava a ideia de que poderia agradar alguém, ou chamar a atenção (a priori, dos meninos, néan). Por isso  fiquei com pouquíssimas pessoas ao longo da minha vida toda.

Enquanto minhas amigas faziam contagem de quantos meninos ficavam, eu estava lá… dando apoio moral a elas. Mas nunca me sentia à vontade nessa situação. Me sentia deslocada. E isso não mudou quando eu me entendi lésbica. Também achava que passaria a vida toda só desejando de longe as mulheres, que realmente nada aconteceria, porque né, eu não era auto-suficiente, principalmente em relação a minha imagem. Eu não era ‘bonita’ 
(ou aquilo que consideram como ser bonita). 

Eu era insegura, aflita, me sentia incapaz… Quase uma amputada de um membro inexistente, mas que eu sentia falta. 



Quando, por um alinhamento dos cósmos, acontecia de beijar alguém, eu sempre ficava na dúvida entre: a pessoa ficou comigo por dó ou por dó ? Sim! Só existia essa minha dúvida. Nunca, de verdade, pensava que a pessoa tinha se interessado por quem eu sou ou até mesmo pela minha aparência. Sempre pensava em algo pejorativo, que me deixasse mais descontente e infeliz. Era uma espécie de auto flagelo só que sem sangue e cicatriz.

Nessa época, eu não assumia nem pra mim mesma essa situação. Sempre tive essa tendência de fugir das coisas que me deixassem potencialmente tristes. E daí, eu ignorava e passava por cima. Essa nunca foi uma boa estratégia porque, quando eu estava sozinha, me sentia a pior pessoa do mundo. Passava horas chorando e me culpando por isso e por aquilo.(alo mãe, é verdade, sorry!)

Não resolver meus próprios conflitos só fez com que eles se fortalecessem sem que eu me desse conta. E aí virava uma bola de neve sem começo ou fim. 



De fato, é mais difícil identificar essa situação e criar mecanismos de auto-ajuda quando se está sozinha. Quem me dera ter feito terapia há uns 6 anos atrás. Teria me salvado de muita coisa. (1bj pra minha terapeuta linda s2 )

Mas eu digo que é possível dar a iniciativa num processo de auto-entendimento. Processo pelo qual, pode ser mais importante do que eu julgo. 
Buscar forças da própria cerne é de veras doloroso, mas acredito que seja necessário para atingir um nível saudável de relação íntima. 

Adquirir segurança em si mesma é mais que importante. É essencial. 
Parar de me desmerecer por coisas que aconteciam, parar de me culpar, parar de me auto-direcionar para um molde específico de mulher; parar de alimentar o ódio ao próprio corpo; parar de criar expectativas dolorosas; parar de me privar das coisas boas. É dessa revolução que eu estou falando. 

Buscar minha segurança como mulher, me fez enxergar meu grande potencial para exercer qualquer coisa. Qualquer coisa que eu sentia vontade.
Eu me joguei, de cabeça. Não era justo me tratar daquele jeito, tão hostil, tão indiferente, tão violento. E não era a minha solução permanecer naquele  estado, uma vez que a tristeza e a depressão sempre apareciam como consolo nessas horas. E olha, elas não são nem de longe boas aliadas, viu?!



Eu decidi que eu era, de fato, melhor. Melhor do que tudo aquilo que me diziam desde pequena (e que dizem até hoje mas que me atinge de maneira diferente). Eu decidi ser minha própria guia porque ninguém deveria comandar minha vida, além de mim. Ninguém sabia o que era o melhor, além de mim. Ninguém sabia como eu estava me sentindo e como eu deveria lidar com isso. 

As pessoas falam demais, e algumas coisas servem e outras não. Eu me apeguei àquilo que me servia de bom e, misturei junto às minhas indagações; fiz um bem bolado by Jéssica e apliquei na minha vida.



Como uma fênix (ai que efeito!), eu ressurgi das gorduras. Fiz dela minha melhor aliada. Aprendi a lidar com isso (e ainda continuo aprendendo) e bloquear aquilo que por ventura, me faria mal. Não tem jeito, não adianta falar que a imagem não importa. Importa sim! E pra quem importa? Pra mim! Só pra mim. Quem precisa, necessariamente, sentir bem diante do espelho sou eu. 

Quem precisa se olhar no espelho e gostar do que nele reflete, é você. 
Quem precisa se achar gostosa e linda, é você!
Quem precisa vestir uma roupa e se adorar naquele pano, é você!

O que as pessoas vão pensar, é uma consequência da sua aceitação e problema exclusivamente delas. Não se incomode, tá?

Eu me considero um exemplo vivo dessa consequência: Quando eu vivia num mundinho obscuro e torpe, cheia de cobranças irreais, ninguém dizia o quão bonita eu estava, ou o quão atraente eu havia me tornado (e não, ninguém mencionava o fato de eu ser inteligente).

Quando eu estava naquela fase de transição de criança pra adolescente, ninguém me dizia: “você está ficando mocinha, hein.Que gracinha” 
Não, a fala era outra: “você está engordando, precisa emagrecer, viu?!” 
E é obvio que isso machuca. Basta pegar uma revista e se procurar nela. Não existe representação da mulher gorda…. a não ser para tomar como título de ‘Não siga os passos dela’. 

Mas isso que todos diziam (e dizem)que é ruim, eu ressignifiquei e me apeguei como escudo, de uma tal forma que é visível à todxs. 

Essa luta incansável pela busca do bem-estar nunca cessa. Nunca porque a sociedade ainda me vê como errada e culpada, e eu sou obrigada a viver nisso. Então, que seja da melhor forma possível, não é? Vamos lá, redução de danos. 1, 2, 3!



Me recusei e ainda recuso a me tornar uma mulher infeliz, sem perspectivas, sem desejos porque não correspondo à um ilusório criado para encaixar num padrão xis-ridículo, que só destrói e acaba com as mulheres em prol de: NADA. Na verdade, é tudo para agradar aos homens. 

Por isso eu jogo beijos pro patriarcado que não vai conseguir uma aliada para sustentar sua base machista e misógina.  Mais beijos para aqueles que me criticam por eu gostar do meu próprio corpo (really? eu não nasci pra me odiar, inimigos)

Outros tantos beijos pra mim mesma: que a cada dia que passa me sinto mais segura de vocalizar meus anseios e dúvidas para quem quiser ouvir, sem medo de ser a errada. E quando acontece de eu ser a errada, desculpas foram feitas pra isso mesmo, sem problemas. 

E um beijo pra você mulher, que busca amar seu corpo diariamente, que busca realizar suas vontades sem medir à quem. Um beijo pra você que já se olha no espelho e gosta do que nele é refletido. Um beijo pra todas nós, que somos mulheres fortes e guerreiras pelo simples fato de sobreviver, gordas e gostosas, afrontando a sociedade machista-gordofóbica. 

                           De mini-saia e vestidindo, um beijo pra vocês!



#postdesabafo #nãotafacio