Das motivações pra série “Compartilhando empoderamento”
Ao longo desses meses, eu publiquei relatos que vieram de diversas mulheres, através de email. A maioria desses relatos sempre tinham pontos em comum que se encontrava em algum parágrafo (ou muitas vezes, em todos!). Foram publicados exatos 21 textos, do dia 04/02/2014 até o dia o dia 07/04/2014. Alguns desses textos tinham identificação, outros não.
Eu não consegui responder nenhum email. Cada vez que eu os lia até o fim, meu corpo e minha mente mergulhavam num mar de dor e comoção. Ler todos os textos não foi uma tarefa fácil. Em alguns deles eu só consegui ler até a metade, daí parava. Começava de novo, num outro dia. Era de engasgar, perder o ar, comprimir o estômago… contorcer a face e deixar a lágrima escorrer.
Eu não pensei que leria tantos fatos marcantes, e principalmente, não pensei que essa seria a tarefa mais díficil enquanto mantenedora deste blog. Foi realmente muito difícil. Saber que, se para mim já estava doendo só de ler aquilo, imaginei o quão dolorido deve ter sido passar por toda uma vida de sofrimentos, violências, negação, disturbios alimentares, privações.
A ideia de pedir para que outras minas me mandassem email contando sobre si mesmas, não foi algo estrategicamente pensando, elaborado. Foi como uma necessidade, que você só reage diante dela. Eu queria saber o que vocês haviam passado. Eu queria saber com quantas de vocês a minha história se parecia. Eu queria saber como vocês resistiram e insistiram. Algumas de vocês me contaram e eu sou imensamente grata por isso. Embora eu não tenha respondido nenhum email, deixo aqui registrado minha imensa admiração por cada uma. Por mais que algumas de vocês ainda não estejam plenamente satisfeitas com suas ações em relação ao próprio corpo ou em relação à família&amigos, peço que a desistência não seja uma opção. Mas eu as admiro pela capacidade de juntar letras e contar suas histórias pra alguém. E ainda mais: Permitir publicar!
Antes de começar o blog, bem antes… Eu nunca tinha tido coragem de contar qualquer coisa sobre mim para pessoas desconhecidas. Na internet, eu sempre ficava no superficial quando abria um blog novo, nada de me mostrar completamente. E vocês fizeram algo muito importante e de real grandeza. Expuseram suas vidas, suas dificuldades; as violências sofridas, os traumas. Expuseram suas fraquezas e vulnerabilidades.
Eu queria muito ter lido esse tipo de coisa há uns bons 6 anos atrás, viu… Me ajudaria muito saber que outras meninas passavam por coisas bastantes semelhantes que eu. Me ajudaria a traçar estratégias de sobrevivência com maiores chances de dar certo. Com mais força nas minhas ações. Com mais esperanças.
Então, saibam que vocês são absurdamente incríveis e guerreiras por esse ato, além de se manterem firme na luta contra o ódio ao próprio corpo.
Deixo registrado também, meu pedido de desculpas pela demora de um texto para o outro. Quando chegaram mais de 5 textos em 1 dia, eu pensei que conseguiria publica-los diariamente. Pensei que conseguiria fazer isso e seria ótimo. Mas não deu. Muitas coisas aconteceram, a falta de energia me pegou várias vezes, o cansaço foi meu inimigo direto. Mas eu consegui finalizar. Publiquei tudo e me sinto bem agora.
– Das imagens que foram usadas aqui
Quem me acompanha desde o blogger, sabe que eu prezo muito o conteúdo visual dos meus posts. Nenhum texto meu foi publicado sem uma foto se quer. Nenhum. Sempre fiz questão de ilustrar o texto com alguma foto que representasse a contra-hegemônia midiática, que produz corpos irreais e os vendem para lucrar em cima da nossa baixa autoestima. Acima de tudo, eu sempre fiz questão de trazer aqui, imagens que se tornavam um soco na boca do estômago do opressor no quesito “beleza”. E não. Eu não fiz esse blog pra ser mais um espaço perpetuador de opressões. Eu fiz esse blog pra destoar de todos os outros que existem por aí. Criei esse espaço pra ser acolhedor e uma ferramenta de empoderamento, de alguma forma.
Por isso eu sou tão chata e tão exigente ao escolher uma imagem ilustrativa do texto. Sabe, é preciso ter tato… É preciso avaliar várias nuances que SEMPRE passam despercebidas. É preciso se atentar para a existência de mulheres diversas e que, estas, nunca são se quer notadas para título de realçar a beleza. É preciso, acima de tudo, reconhecer que somos uma categoria social diversa e plural, temos nossas especifidades e estas devem ser levadas em consideração o tempo todo! Mas a realidade que eu faço aqui, não é igual a que existe para a massa…
Mulheres diversas estão fora de cogitação nas capas de revistas, nos comerciais de tv, nos manequins. Somos excluídas porque tivemos a audácia de…. Sermos mulheres! Ora! E mulheres insubmissas! Mulheres com projetos políticos extremamente avançados para o que esperam de uma ‘mulher’. Mulheres que rejeitam aquilo que está posto nesta sociedade draconiana. Mulheres que existem parem além de qualquer consideração padronizada do que é uma mulher bela.
Por essas e outras que eu acabo demorando umas 4 horas procurando uma imagem. Pois é! Eu demoro tudo isso mesmo. Fuço tumblr, Pinterest, Deviant Art e os escambal!
Toda imagem que eu publico é uma sentença de que eu tomei uma posição política. Toda imagem que eu publico tem um motivo, tem um porquê. Eu não faço parte daqueles que se dizem “imparciais”. Eu escolhi um lado para lutar e me orgulho muito de não ser imparcial.
É muito difícil encontrar imagens que saiam do padrão “branca-magra-europeia-cabeloslisos”. Sério gente, é bem difícil! E aí, quando eu encontro imagens de mulheres gordas, das duas uma: Ou estão em poses eróticas servindo de objeto sexual aos homens, ou têm as genitais sempre destacadas. Eu não sei definir em um termo qual é o meu “gosto” por imagens, mas eu sei que dessas aí eu não gosto. Ao longo dos posts eu fui optando por procurar ilustrações e pinturas à óleo, especificamente. Achei várias, não que tenha sido fácil, mas achei. O interessante dessas duas áreas, a ilustração e a pintura, é que elas te permitem adentrar com um olhar diferente para o que está exposto. Causa uma sensação diferente do que uma fotografia com uma modelo. Não sei explicar direito meu sentimento em relação à essas duas categorias artísticas, mas eu gosto muito.
Poucas foram as imagens que atingiram meu nível de exigência e satisfação na busca. Cheguei a pensar em escrever um manifesto para as artistas retratarem em suas obras corpos diversos porque tava foda! Mas aí nem escrevi pois achei muito abusado da minha parte querer falar o que uma artista precisa fazer, néan… Mas enfim.
Eu friso tanto essa questão da imagem porque eu sei que ela é absolutamente importante! Não dá pra dizer que “tanto faz”. Faz diferença sim! É extremamente diferente você se deparar diariamente com imagem de mulheres diversas do se deparar com imagens de um único padrão de beleza. É extremamente diferente você publicar fotos que são o oposto do que prega uma sociedade racista. Isso causa um impacto.
A gente se reconhece na outra. Causa uma sensação de pertencimento existencial. É olhar aquela capa de revista e achar linda aquela mulher preta e gorda, de black bem grande sem nenhuma padronização amarrando o corpo dela.
A imagem causa um grande impacto nas nossas vidas. Nós, mulheres diversas, que nunca nos enxergamos em nada. E esse impacto pode ser benéfico, entusiasmador e empoderador. Isto é, se as mídias se dispusessem a tomar essa frente… Mas sabemos que não, porque por trás dela, todo alicerce foi fortificado pelo poder do opressor dominando uma minoria de direitos.
Relaciono abaixo os posts e as imagens usadas com sua devida autoria –embora alguns tenham aparecido sem a autoria.
#1 Compartilhado Por Franciele Siqueira: https://gordaesapatao.com.br/1-compartilhado/
2# compartilhado por “A” – https://gordaesapatao.com.br/2-compartilhado/
#3 Compartilhado por Marina https://gordaesapatao.com.br/3-compartilhado/
4# Compartilhado por Ketlyn – https://gordaesapatao.com.br/4-compartilhado/
#5 Compartilhado por Laís Otero – https://gordaesapatao.com.br/5-compartilhado/
#6 compartilhado por Luísa Mansan https://gordaesapatao.com.br/6-compartilhado/
#7 compartilhado por Bruna Barlach- https://gordaesapatao.com.br/280/
#8 compartilhado por Nathalie Inês – https://gordaesapatao.com.br/8-compartilhado/
#9 compartilhado por Luiza – https://gordaesapatao.com.br/293/
#10 compartilhado por Cláudia Naomi Abe – https://gordaesapatao.com.br/10-compartilhado/
#11 compartilhado por Luiza C. – https://gordaesapatao.com.br/11-compartilhado/
#12 compartilhado por Luiza Ribeiro – https://gordaesapatao.com.br/12-compartilhado/
#13 compartilhado por Maria – https://gordaesapatao.com.br/13-compartilhado/
#14 compartilhado por Amanda Tintori –https://gordaesapatao.com.br/14-compartilhado/
#15 compartilhado por M.L – https://gordaesapatao.com.br/15-compartilhado/
#16 compartilhado por J.F.C – https://gordaesapatao.com.br/16-compartilhado-2/
#17 compartilhado por Francine Derschner https://gordaesapatao.com.br/20-compartilhado/
#18 compartilhado por anônima – https://gordaesapatao.com.br/18-compartilhado-2/
#19 compartilhado por C.P – https://gordaesapatao.com.br/19-compartilhado/
#20 compartilhado por anônima – https://gordaesapatao.com.br/20-compartilhado-2/
#21 compartilhado por anônima – https://gordaesapatao.com.br/21-compartilhado/
Todos esses textos são registros são imperecíveis. São parágrafos e mais parágrafos recheados de tudo aquilo que o patriarcado&CIA vem incutindo nas nossas vidas. São relatos de sobrevivência que, infelizmente, não são únicos ou casos isolados.
Percebam que a maioria dos textos traz à tona o papel da família como ferramenta opressiva, sustentada na ideia e ação patriarcal que embasa nossa sociedade. A família, essa instituição dita indissolúvel, tem uma carga muito forte nesses relatos.
A escola e faculdade também não passam despercebidos, uma vez que é através delas que a nossa socialização se torna tortuosa quando nos deparamos com um mar de gente entupida de opressões e, bastando um click no gatilho, é disparado tudo de ruim contra aquelas que “fogem” à regra.
Fica aqui, então, devidamente registrado histórias de vidas reais, de meninas reais, de mulheres reais que, não obstante, ainda são vítimas de toda misógina e machismo. São vítimas que contaram suas histórias para ninguém esquecer ou achar que, só porque votamos ou entramos para a faculdade, é que está tudo resolvido.
Por essas e outras, me mantenho aqui. Me deixo à disposição para servir de ferramenta contra a mídia machista, transfobica, corporativista que domina os meios de comunicação.
Esse é um pequeno espaço sim, mas creio eu ser um dos únicos que se dispõem a respeitar as mulheres, todas elas!
Me sinto feliz de finalizar esse post com um muito obrigada!
Agradeço a cada uma que reservou um pouquinho de seu tempo para escrever e me enviar.
Agradeço também à cada pessoa desconhecida que passa por aqui e leva alguma coisa de bom para si e para quem está ao seu redor.
Da gorda e sapatão,
Jéssica Ipólito