Acadêmica, quem?


É legal aprender as teorias, discutir e discutir, buscar referências, ler textos e mais textos, produzir análises se contrapondo a outras já feitas, achar a problemática de autores e desenvolver métodos, pesquisas, num sei o que… É realmente muito intenso! Digo isso porque estudar gênero tem sido um desafio pra mim. As produções acadêmicas estão num outro nível assim de compreensão que, olha, haja intelecto pra alcançar! Eu tenho tido dificuldades em acompanhar o curso. Eu tenho a sensação constante de que eu sou bem burra porque leio as coisas e não entendo lhufas do que quer dizer. Ou quando a professora explica explica explica e eu ainda tô tentando processar o que ela disse no início. É um negócio doido! Eu sei que eu não sou ignorante, mas a sensação é essa mesma rss. Aí tenho de escrever. Sim, tem que escrever e escrever pra mim é sentir. E eu não tenho sentido nada quando escrevo meus trabalhos, confesso. Talvez porque eu ainda me sinta em déficit com o espaço acadêmico, talvez porque tem exigido mais do que tenho… Mas eu não tenho sentido nada além da pressão de ter que entregar trabalho e garantir meu SCORE alto (um negócio sobre pontuação que eu não entendi direito, mas é valioso pra quando você se candidatar à grupo de pesquisa ou bolsa, sei la).
Eu não consigo usar todos os conceitos que eu já teci sobre; eu mal consegui compreende-los profundamente ainda. Sim, só está começando o curso, eu sei…. Isso é só um desabafo temporal.
Mesmo com as dificuldades de acompanhar o fluxo, eu tenho compreendido mais fundo que as relações sociais não se alteram poque a gente questiona e problematiza teorico e discursivamente. Quantas vezes eu não me percebi reproduzindo opressões? Vishi, várias, muitas vezes! Daí eu sigo nessa de tentativa e erro, tentativa e erro; mas é que pouca gente fala quando reproduz aquilo que no discurso quer combater. Aí fica complicado porque parece que tá todo mundo super alinhado prática com discurso, mas não está! Mas a gente gosta de fingir que está, porque reconhecer-se numa postura ruim e problemática é terrível, ninguém sabe o que fazer, se ninguém sabe o que fazer… bora continuar vivendo, não é mesmo!??! Sei lá… passamos por cima. E nisso se reflete na hora que vc propõe abrir uma vaga de estágio e considera Ok, normal, tranquilo, ÓTIMO, contratar pessoas sem remuneração. Ou quando diferencia quem vai comer e como vai comer, naquela confraternização da firma, do grupo de pesquisa… Sabe a faxineira que recebe o pratinho no final da confraternização? Ela não come junto porque não é pra todo mundo. As coisas não são pra todo mundo e a gente sabe. Enquanto isso, avançamos nos discursos mas não avançamos nas práticas. Minha mãe sempre diz que “num adianta você falar que vai fazer e não fazer, Jéssica ! Vá lá e faça, você já sabe o que precisa fazer… se não for assim, deixa que eu faço”. E então, outras pessoas continuam servindo pra fazer ações “inferiores”, que imagine… Eu, do alto do meu poder de filha, estudante, pesquisadora, gerente, professora, doutora, coordenadora, presidente, etc, etc vou fazer?! Vou nada.
Mas vou continuar falando que é problemático, que o conceito é assim e não assado, enfim… enfim… contradições nas percepções, uma doidera mesmo.

 


Imagem destacada: Di Cavalcanti