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Nada que façamos será o suficiente e não, a sua vida, a minha vida, não vai melhorar quando emagrecermos. Não vai.
Por Luísa Mansan
Não sei como começar a escrever ou “contar minha história”, mas vamos lá. Eu tenho 16 anos, peso 59kg e visto 38/40. Sei que muitas pessoas devem estar pensando que eu não deveria estar escrevendo aqui, afinal eu uso 38/40, “sou magra” e tudo deve ser ótimo para mim. A realidade é que, embora eu saiba que eu não sofro discriminação por ser gorda, que eu não tenho dificuldade para encontrar roupas e ninguém presume que eu só como batata frita o dia todo, eu não possuo uma boa história com meu corpo.
E isso começou nova, mais nova do que eu gostaria.
Eu nem tinha completado 14 anos e decidi ser magra. Nunca fui o tipo de pessoa que pode comer tudo e não engordar. Sempre fui a coleguinha gordinha da turma. Todas as minhas amigas eram magras, bem magras, menos eu. Nunca liguei tanto pra isso, nunca deixei de ir à praia ou usar roupa curta. Claro, eu queria ser magra e pensava que não era tão bonita quantas as outras meninas, talvez eu fosse, mas talvez eu realmente não fosse. O caso é que isso não importa, ou pelo menos não deveria importar. Eu não deveria me sentir feia. Eu era uma criança. Isso não devia importar.
Comecei a tal da dieta. Comecei bem. Comecei trocando alimentos “não saudáveis” por alimentos “saudáveis”. Vale ressaltar que fiz tudo sozinha e digo que: nunca deixem crianças/adolescentes sozinhos com isso, por mais que eles sejam “espertos e independentes” (era o que pensavam de mim). As pessoas me parabenizavam, as pessoas estavam felizes, como se finalmente eu estivesse fazendo o que deveria fazer: ser magra. Emagreci com uma até então facilidade, as coisas estavam indo bem e eu perdi peso sem dificuldade. É claro, o conto de fadas não durou, e o que deveria ser algo positivo, se tornou a maior prisão da minha vida.
Regras. Muitas regras. Eu simplesmente não podia. Não, eu não podia comer aquele pedaço extra de bolo, eu nem devia ter comido o bolo em primeiro lugar. Não, não é só um bombom, são 100 calorias. E eu não posso comer mais 100 calorias senão terei que fazer de 5 a 10 minutos de bicicleta ergométrica. Não, eu não posso sair de casa, a menos que eu leve uma barrinha de cereal para ter algo que possa comer.
Eu fiquei bem magra e as pessoas notaram. De repente, os “parabéns” viraram: “você está exagerando, você está bem magra”. Mas eu não achava. Não o tempo todo. Eu não tive anorexia ou bulimia, embora meu relato possa estar semelhante ao de alguém que teve. Eu sempre pensava estar fazendo o melhor pra mim, eu sempre pensava “eu não sou que nem elas, eu como, eu não vomito, eu estou saudável, eu estou fazendo o certo”. Entretanto eu NUNCA estava satisfeita. Eu perdi cerca de 10 kg, pesei a maior parte do ano entre 50 e 52kg e eu queria menos. Eu queria pesar 48kg. Eu queria. Eu comia, porém contralava cada garfada, cada mordida e a culpa era algo intrínseco ao ato de comer. Eu não vomitava, mas eu contava calorias e usava exercício como uma forma de punição e não de algo prazeroso que deve ser. Eu não era “que nem elas”, mas eu quase fui. Eu estava a caminho de ser.
Nesse ponto eu já não escutava as pessoas tentando dizer que eu estava exagerando. Na minha cabeça eu estava fazendo o que era certo. Talvez eu tenha desperdiçado um ano da minha vida e criado medos e paranoias duráveis para uma vida inteira. Chegaram às férias de fim de ano e eu engordei. O meu maior medo havia se tornado realidade. E, o mais engraçado de tudo, é que eu engordei de uma forma divertida: eu engordei vivendo. Eu engordei fazendo tudo que eu não tinha feito naquele ano. Eu não me privei. Eu vivi e mal notei os quilos voltando. Eu tive o melhor verão da minha vida. Eu estava “nem aí” para balança porque eu tinha outra coisa pra me preocupar: ser feliz.
O verão acabou levando junto meu manequim 36. Então eu percebi o “estrago” que eu tinha feito. Eu estava arrasada. Eu estava detonada. Mas eu achava que poderia perder o peso, de novo. Mas eu não pude. O meu corpo começou a tomar suas formas naturais e meu metabolismo começou a se manifestar, ou melhor, a não se manifestar. Tive minha primeira menstruação e depois disso nada foi fácil. Entrei pra academia e descobri algo que eu adoro. Talvez esse tenha sido o lado positivo de tudo isso, descobrir que eu gosto de me exercitar e ser saudável, mesmo que eu não seja ~magra padrão de beleza~. Nesse ano, 2012, eu conheci o feminismo e isso mudou minha vida e percepção sobre corpos gordos. Nunca me esquecerei de um post da Lola (não a leio mais, mas ela foi importante pra mim) no qual ela dizia “mas quem disse que gordura é sinônimo de feiura”? Naquele dia o conceito de beleza havia ganhado um novo significado. Passei a ver beleza em todos os corpos, em todas as mulheres e formas. Abandonei a ideia da beleza eurocêntrica e magra. Eu aprendi (e continuo aprendendo) que gordura não é sinônimo de feiura e todo mundo deveria considerar muito suspeito alguém que diz o contrário.
Isso não significa que minha vida se tornou maravilhosa e eu não tentei emagrecer depois disso. Eu passei o ano inteiro tentando perder peso, mesmo quando me diziam que não havia necessidade. E ano passado não foi diferente. Eu engordei ainda mais. Eu atingi meu peso máximo de 66kg. Eu não fiquei feliz e perdi esse peso (não foi tão difícil porque eu estava me alimentando diferente da minha rotina, por isso engordei). E o que parecia ser o fim de dietas, não foi. Eu dizia que “só quero pesar 6okg de novo e pronto, tá bom” (passei 2012 inteiro tentando pesar isso e de repente, isso era tudo o que eu queria pesar). Eu pesei os 60kgs. E hoje peso 59kg.
E sim, eu queria terminar esse relato dizendo que eu me amo por completo, que amo meu corpo, que eu não to tentando fazer dieta e perder peso. Eu queria. Eu queria que minhas palavras positivas não morressem quando eu me olho no espelho. Eu queria ser mais tolerante comigo mesma. Eu luto contra isso há dois anos e só posso dizer que: nunca vai estar bom, sempre faltará 1kg. Ou 2kgs. Quem sabe até 5 se você estiver disposta a tentar aquela nova dieta que não permite carboidrato. Sempre. Nada que façamos será o suficiente e não, a sua vida, a minha vida, não vai melhorar quando emagrecermos. Não vai. E eu sei disso, eu sei de tudo isso. E mesmo assim eu não consigo me livrar dessas amarras. Eu tento. Eu sempre vou tentar porque acredito que eu tenho o direito de viver livre. Eu não quero viver nessa prisão. Não mais.
Gente, me identifiquei com ela, também quero deixar claro que não sou gorda, portanto não quero falar em noma das gordas, mas como toda a mulher também sofro pressão da mídia, de forma diferente por ser magra.
Eu nuca fui gorda, ao contrário como de tudo e engordo muito pouco, meu peso normal está entre os 52, 55 kgs, nunca fui de me preocupar com oq eu como, ao contrário sempre comi bastante…mas de uns anos para cá comecei a me incomodar com aquela barriguinha ali, aquela gordurinha aquí, comecei a me achar gorda e ponto, comecei a cortar calorias, rapidamente estava com 47 kg, 45, 44…quando meus pais começaram a se preocupar, eu achava que estava perfeita e ia continuar, minha mãe passou a querer me obrigar a jantar, e eu negava totalmente, estava com 41 kg e infeliz, minha vida estava chata e sem graça, comecei a sentir falta das besteiras, então saia com os amigos e tomava laxante depois, não vomitava, mas mordia, mastigava e cuspia, estava com transtorno alimentar…bem estou em tratamento, e já não faço loucuras o medo de engordar ainda é forte em mim, peso 47,5 kg, e não quero engordar, emagrecer, até queria, mas sei que minha saúde estaria comprometida, não me livrei totalmente do transtorno, tento conviver com ele da melhor forma, oq acreditem já é uma vitória, pois minha relação com meu transtorno é muito estranha, as vezes amo meu transtorno, as vezes o odeio, ainda tenho muito medo de me livrar dele, sei que a mídia tem sua parcela de culpa, ainda mais que a moda, minha maior paixão e talento, só aceita mulheres magras, apesar de odiar quando dizem gorda não pode, absorvo isso, e quero ser magra pq vai ficar melhor com as roupas…., um dia sei que vou me libertar de tudo isso, o feminismo ajuda muito, mas enquanto eu convivo, infelizmente, com o transtorno, não irei reproduzir um discurso gordofobico jamais, hoje entendo o quando isso faz com que uma pessoa gorda sofra, sinto empatia e apesar de não saber oq elas passam, posso imaginar, e principalmente, posso não compactuar com isso.
Beijos e continue com esse blog lindo!
….Li com atenção o seu relato. Bem escrito e solúvel. Claro. Gostei muito. Vim parar aqui via face, um beijo
Neusa