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O feminismo veio mais tarde, com a tal saída de casa e com ele, o empoderamento, me senti livre pela primeira vez na vida. A cidade de 60 mil habitantes deu lugar a uma com quase 2 milhões e uma vontade a mais. Comecei a ver pessoas como eu, com os mesmos pensamentos e isso me deu mais coragem para enfrentar o grande medo que eu tinha, o medo de viver.
Por: J. F.C
Medo. Essa seria a palavra que melhor definiria minha vida. Medrosa for dentro, mas esbanjando coragem por fora. Calma por fora, explodindo de ansiedade por dentro.
Vivi sempre esperando; esperando ser magra, esperando que as pessoas viessem falar comigo, esperando poder ir embora de casa, esperando que a minha família tivesse mais compreensão, esperando que as coisas melhorassem não só dentro de casa, mas no mundo. Não bastando tudo isso, aos 18, comecei a me questionar e cheguei a uma “vaga” conclusão: SOU GAY. Tudo não poderia ser melhor, a filha que já causava problemas pelo simples fato de questionar e não pensar da forma pré-histórica dos pais, tinha mais um motivo para se preocupar sobre o futuro.
Minha família nunca foi muito religiosa, mas meus pais foram criados de forma rigorosa e sem muita abertura para questionar-se a respeito das coisas. Eu fui criada da mesma maneira. Ouvi diversos: Sente como menina! Não corte esses cabelos mais, parece um rapaz! Se depile! Não me apareça de mãos dadas com uma menina! Se exercite! Não coma tanto! Não seja tão “extremista”, tão “radical”! Enquanto meu irmão, 4 anos mais novo, era incentivado a sair, ter 5 namoradas ao mesmo tempo e fazer o que bem entendesse sem nem precisar dar satisfação, se não, ficaria igual ao meu tio, no caso, gay.
Todas essas frases foram se acumulando na minha cabeça, mas de qualquer maneira, eu costumava deixar todas elas de lado, pois sempre acreditei que os meus problemas em nada se comparavam aos que outras pessoas enfrentavam em suas vidas. O que eu queria era viver, viver! Só isso! Seria pedir demais? Penso que não.
O feminismo veio mais tarde, com a tal saída de casa e com ele, o empoderamento, me senti livre pela primeira vez na vida. A cidade de 60 mil habitantes deu lugar a uma com quase 2 milhões e uma vontade a mais. Comecei a ver pessoas como eu, com os mesmos pensamentos e isso me deu mais coragem para enfrentar o grande medo que eu tinha, o medo de viver.
Se pudesse, gostaria de abraçar a todxs, que tem medo e não conseguem ser realmente quem gostariam de ser, gostaria de dizer-lhes que tudo ficará bem, que todos têm chance de ser feliz, é só deixar-se prender a ela, afinal, apesar de não conseguir mudar o mundo, podemos mudar o nosso mundo e fazer dele um lugar do nosso jeitinho.