Nem o título cabe em mim
Nunca fui magra. Se você me perguntar qual é a sensação de se sentir bem em convívio social, eu não saberei como responder. E você, por consequência, pode não compreender o que é isso. Estar a mercê de uma sociedade que foi estruturada em opressões, não me deixa motivos para saber o que é “me sentir bem”.
Eu sou gorda.
Não quero ser magra.
Eu sou gorda.
Não quero ser assimilada socialmente.
Eu sou gorda.
Admiro quem é gorda.
Eu sou gorda.
Não caibo em nenhuma revista.
Eu sou gorda e nem que eu coubesse, gostaria de me ver em uma.
Eu sou gorda.
Não quero ser magra.
Eu sou gorda.
Não me sinto culpada quando vocês deixam.
Eu sou gorda.
Me sinto bem quando não me tratam como uma aberração.
Eu sou gorda.
Quando vocês deixam, eu sou comum.
Eu sou gorda.
Não quero previsões para quando eu for magra.
Eu sou gorda.
A cada dia eu continuo assim.
Não quero migalhas de aceitação.
Nada foi pensando e planejado a partir de uma ótica que abranja as pessoas não-magras. Foi tudo ao contrário. Todos os ambientes padronizados em seus centímetros me trazem à tona de que, a cada dia que passa, eu serei cada vez mais vilipendiada sem dó ou piedade. Pessoas que ousam se destoar do que é dito como padrão, vão padecer no tal inferno que dizem ser na terra..
Ultimamente tenho acordado menos disposta e vibrante. Me dá preguiça sair de casa. Já fico ofegante ao pensar em encarar o mundo lá fora. Aqui, o meu quarto me aguenta, lá fora não. (isso são sintomas de que fui atingida. não raro, acontece)
Lá fora, as pessoas buscam formas para tratar meu corpo, pois ele é visto como algo quebrado, deve ser concertado. Buscam maneiras de me aceitar gorda com o bom e velho papo de que é só pela minha saúde. As pessoas ficam fissuradas por métodos e caminhos onde possam me dizer o que fazer com o meu corpo.
Quando elas malham, quando passam horas na academia, se dispõem em fazer cirurgias plásticas ou dietas rígidas… Indiretamente, é o meu corpo que elas tentam concertar ao fazer isso.
É o meu corpo que elas julgam errado e que não querem se ver com ele.
O corpo gordo não passa mais do que um exemplo a não ser seguido e por isso as pessoas lutam para não chegar próximo dele.
Tudo é feito para combater um possível corpo gordo em seu próprio corpo, pois é sinal de que? De que você não se preocupa, não se cuida. Desleixo.
Quando fazem piada com o meu tamanho ou quando ficam abismadas ao me ver comendo “saudavelmente”, é a mim que violentam. E não ouse tratar como’ exagero’ algo que você não sente. Não é justo.
Eu sinto os olhares de repulsa.
Eu sinto os olhares de esquiva.
Eu sinto, cada vez mais, a indiferença e a força da raiva que advém das pessoas. Meu corpo vestido, meu corpo nu, meu corpo sentado ou meu corpo em pé. É motivo de raiva. Ou desprezo. Ou tudo ao mesmo tempo.
Não aceitam, não respeitam, não consideram, não não e não!
Esse corpo gordo, não!
Eu não cultivo expectativas de que um dia desses as pessoas irão deixar meu -e o seu- corpo em paz. Ao contrário de nutrir essa falsa esperança, eu fortaleço em mim mesma. Me retroalimento sem dó. Preciso me tornar uma fonte de combate à essas violações cotidianas. Preciso devolver habilidades confiando em mim mesma, lembrando das minhas motivações e entendendo que todo esse contexto social violento foi posto por alguns motivos. Preciso, urgentemente, restabelecer meu equilíbrio que tanto querem tirar de mim. Equilíbrio esse que é muito difícil de ser alcançado, ainda mais quando se é lida socialmente como mulher. Ainda mais quando se é gorda.
Nessa batalha, apoio em mim mesma. Me fiz de muleta e amuleto. Quis assim porque, por anos, eu nunca acreditei que pudesse fazer isso. Não é desdém para com quem sempre esteve ao meu lado, mas é que certas coisas a gente só consegue sozinha. Se organizando internamente, passando do estágio de “acreditar nos outros” e para o “acreditar em si mesma”.
Eu fico te imaginando e te acho linda. Imagina uma mulher determinada nos seus princípios, o seu corpo deve ser lindo, porque ele exala atitude, mudança, amor pelo que faz. O corpo de qualquer um exala harmonia.
Eu passo todos os dias lutando contra os esteriótipos corporais da sociedade, luto com o espelho e quase sempre ele ganha, não sou acima do “peso” corporalmente de acordo com a mídia mas a cruz que escolhi carregar para ser aceita na sociedade é pesada. o que adianta ter um corpo “saudável” e uma alma de elefante?
Sua alma é leve, seu corpo é leve… me inspira ser assim.
A maioria das pessoas não conseguem enxergar além das coisas…
Um beijoooooo!!!!!!