Eu tenho um búzio que me diz coisas estranhas ao ouvido


O texto mais lido aqui do blog é sobre sexo. Justamente esse texto sempre fica em primeiro lugar de visualizações. As fotos chamam a atenção mas o assunto principalmente. Acabei de reler esse texto, agora, muito tempo depois e fui ler os comentários de novo. Normalmente eu não fico relendo as coisas que escrevi aqui, sendo bem sincera. Não sei o que acontece em mim mas em vídeo também é assim: não gosto de me ver. Não assisto aos vídeos que participei no Canal das Bee, por exemplo, assisti uma vez só quando foi publicado. Não sei exatamente o que é esse sentimento que me acomete. Talvez tenha relação com o fato de não reconhecer ser suficientemente bom o que eu escrevo, de não considerar tão interessante assim -a mim mesma- a ponto de reler com frequência, de me assistir com frequência. Três anos e alguns meses de publicações no blog e eu ainda me vejo no início: imatura demais, sem saber exatamente pra onde ir (o que escrever), tenho mais textos no rascunho do que publicados; fico me tremendo toda na corda bamba entre exposição e resguardo. Não diminui a exigência comigo mesma, muito por isso que esse blog não consegue se manter atualizado decentemente. Eu danço desajustada entre não me penalizar e não me penalizar MUITO pelo fato de não conseguir escrever conforme eu gostaria. Acontece que é muito difícil. Você escreve alguma coisa? Já tentou escrever o que sente? Transformar em palavras o pensamento, o sentimento, é uma tarefa árdua! Passa longe de ser impossível e para algumas pessoas, isso é muito tranquilo, quase que como nascer sabendo… Não é o meu caso. Ao contrário da menina que eu era quando começou a escrever, hoje me vejo extremamente critica de mim mesma, me cobrando em demasiado por responsabilidade e ética na escrita a ponto de não querer publicar algo que já escrevi. Eu nunca pensei em desisti desse blog, mas eu já pensei em desisti da vida, de mim. Muitas vezes. E talvez escrever isso e tornar público pode ser útil pra quando essa maré ruim baixar.
Eu não tenho estado muito bem ultimamente. Faço a linha reservada e só me abro pra poucas pessoas e na base de muito custo também… Para todos os casos, está tudo bem sim! Inclusive se alguém vier falar comigo, perguntar alguma coisa depois de ler esse texto, eu vou dizer que tá tudo bem, imagina! Porque às vezes eu só quero escrever que não dá mais seguir, que diariamente eu sinto uma angustia torpe e densa dominar meu corpo e mente, de modo a me impedir de fazer o que preciso. Eu só quero escrever que na minha história, não é tudo lindo e maravilhoso não; e que eu também posso soar hipócrita quando só escancarar isso muitos anos depois do início de tudo. Eu sou assim, hipócrita também. Comigo mesma, acima de tudo. Não está nada bem e eu só queria que tudo melhorasse logo, que alguma coisa me fizesse despencar logo dessa beira do penhasco imaginário que eu tenho vivido. Esse vai-num-vai é terrível! Costumeiramente eu vou deixando pra lá… A vida vai acontecendo, eu vou deixando, ela vai acontecendo… Ih! Fodeu! Chega uma hora que o corpo não aguenta e se torna tudo humanamente impossível de dar conta. Estou nessa hora, amiga, give me a change! Evidentemente que ninguém me dará nada, as coisas só desenrolarão se eu assim fizer. É realmente aquele lance de auto-cuidado que eu vivo deixando salvo no favorito pra ler depois o passo-a-passo. Sempre tem uma cartilha de como fazer para melhorar uma alimentação, ou o sono, ioga matinal… Essas coisas namastê que devem mesmo fazer toda diferença na vida. Eu mesma não consigo, sigo nessa auto-sabotagem sem fim. Ridiculamente me achando doninha do meu ser quando na verdade, sei nem me alimentar direito! Vejam que coisa… Se minha mãe tivesse aqui, era fazer ou fazer! Mas a vida é minha e eu decido até mesmo essa auto-sabotagem. No final das contas, sempre sou eu, por pior que seja a escolha… Consciente ou não. Mas se bem que eu preciso reconhecer que nesse caso é consciente sim. Estou registrando minha história (e de algumas outras minas que decidiram compartilhar aqui) com os devidos detalhes, porque eu quero um dia publicar um livro físico disso tudo aqui e ler cada página como quem lê uma autora nova, desconhecida, sem resenha prévia, sem indicação. Quero parar numa livrar e comprar o livro que eu escrevi só pela capa (porque a capa vai ser bem convidativa!) e fingir que não conheço cada história só pra me surpreender e pensar “puxa vida, olha o que essa mina pensava!”. E ter vontade de (re)escrever os mesmos assuntos pelo fato de já ter mudado de ideia ou de ter lapidado outras tantas. Essa íntima dialética pode ser generosa, não?! rss… No fim das contas, não há final não, mas eu adoro achar que tem só pra me contrariar. E estou aqui, escrevendo, pelada na cama, sozinha em casa num sábado a noite. Tenho dores musculares fortíssimas, na região do pescoço e vai descendo pro meio das costas, espalha até os ombros… Uma amiga disse que é tensão e eu não verbalizei, mas concordei. Realmente, parece que carrego os problemas do mundo! Um drama à parte, eu carrego os meus que são tão pesados quanto meu corpo todinho a ponto de me deixar na dor; esse estresse e ansiedade reflete no corpo que dá sinais de S.O.S, vai pifar já já, Jéssica! Pior que eu tenho tanto trabalho da faculdade pra entregar que nem sei por onde começo! E ainda por cima me comprometi com outras coisas de militância (quebro minhas próprias promessas com facilidade, quem sempre?); ainda não consegui um emprego e nem sei se quero um mesmo. Sinto que é mais pela formalidade e sensação de estabilidade que isso oferece do que propriamente um querer meu. Eu quero é trabalho, poder fazer as coisas que eu sei e ganhar dinheiro por isso que dê viver e ir me aperfeiçoando gradativamente. CLT é luxo em tempos temerários! Eu quero luxo também, mas tá impossível de conseguir! Além disso, sinto todos os dias minha auto-estima definhando… Que tristeza é não conseguir se restabelecer perante o espelho: meu cabelo tem um palmo de raiz, o roxo tá desbotado, minha sobrancelha tá mais grossa e junta que a da Frida Khalo, meus pelos tão dando pra fazer dread praticamente (mas eu acho lindo e não quero tira-los); eu ainda tenho forças pra frequentar as aulas mesmo que não tenha um pingo de vontade de, as vezes, não conversar com as pessoas. Nem cumprimentar. Mas me esforço. Estou presente e tento acompanhar o ritmo de reflexão perante os textos e debates. Realmente essa mudança de vida me deu um baque enorme, eu não estava preparada pra nada disso que tá rolando agora. É muita coisa. Fora que tem uma parte afetiva que eu gostaria muito de escrever mas que no momento, é delicado demais pra vir à público. Quem sabe um dia. Tenho me sentido constantemente feia. Isso mesmo: FEIA. De não achar beleza nenhuma no que vejo, sabe, não no sentido de me odiar “nossa como estou horrível, credo”, mas no sentido de não ver graça alguma. Uma complacência sobre mim mesma muito bizarra. Não sei como isso veio parar em mim… Pode ter sido desde quando cheguei aqui em Salvador e percebi que não teria a mesma estratégia pra lidar com os ônibus e suas catracas; quero dizer, meu corpo e a cidade não se deram muito bem. Isso explica porque não visitei nem 1/3 de Salvador além do perímetro central que dá pra conhecer a pé. Realmente a sociedade cumpre um papel brilhante em inflar minha confiança e auto-estima. Good job!  Sei que já escrevi muito sobre aceitação, sobre amar o próprio corpo; já escrevi sobre de onde vem esse ódio gordofóbico… sei de tudo, sei mesmo! Mas isso não é capaz de me blindar de nada, fato consumado e não é de hoje. Não passo ilesa a nada. Cheguei num nível de não querer mais transar, de ver o tesão indo embora com quem vê um parente muito querido partindo num transatlântico, pra sempre. Drástico? Tragicômico!? É bem isso e muito mais.
Não posso deixar de mencionar que fazer amizades tem sido um desafio. Muito se engana quem me acha supeeeer transante, viu?! É que não me conhece mesmo. Porque não tenho conseguido fazer mais do que meras conhecidas (os), passageiras em minha vida e eu na delas. Sei que o tempo é primordial nessas situações mas é que… Eu tenho saudades as minhas amigas! De ter meu quarto bagunçado pelas coisas das outras, de ter minha cama cheia de gente sentada, de ter pizza compartilhada de noite, de sair e voltar de madrugada. Eu tenho saudades imensas de tudo, felizmente, eu não esqueci nada. Estou aqui disposta à novas cenas que deixarão saudade quando eu partir, mas até agora, as gravações não começaram. Eu sigo… Tomei dois relaxantes musculares aqui, vou dormir, esperar que amanhã acorde com menos dor e mais disposta.

Um beijo!
obrigada por me ler, esse monte de coisa doida!


Imagem destacada: by Isabel Constard