Eu sou maior que o GG


Desde que o surto da moda Plus Size deu-se no Brasil, eu venho me perguntando se eles não erraram o foco, porque na minha concepção, mulher “size”  não é  bem essa que eles exibem nos catálogos, hein…. Essa mulher dos catálogos é aquela curvilínea, ou seja: nem magra demais e nem gorda demais, para os padrões sociais. Na média.
 
Daí que essa história toda, da moda em si, me incomoda muito. Veja bem:
Sou gorda, visto 58 (imaginou meu tamanho? É grande, colegue!). Em nenhum espaço da moda é promovido esse tipo de numeração. Em nenhum canto (exceto blogues plussezi, acabam especificando esse tamanho) vejo modelo gorda: 130kg, sabe? G O R D A !
 
A gordura incomoda, né? Deixa as pessoas desconfortáveis, talvez…. No entanto, a podre  indústria da moda tem uma dívida muito grande com nós, GORDAS. Desde o início ignorando corpos grandes nas passarelas e revistas; desde sempre incitando a magreza e avacalhando a gordura corporal. 
Aí abriram as portas para mulheres “gordas”, e eis que temos um novo padrão de beleza pré estabelecido:
 
O padrão plus size:
 
                                            Top model plus size Robyn Lawley
 
arquivo pessoal da modelo no FB

A australiana, recentemente foi a garota propaganda da marca de langerrí Panache, especializada em tamanhos grandes; e tirou essas fotos abaixo, sem qualquer alteração em programas de edição de imagem.
 
http://www.softblog.com.br/


http://www.softblog.com.br/



Robyn tem uma carreira de sucesso. Foi a primeira plus size a ser contratada pela Calvin Klein e  Ralph Lauren.  E também já estrelou várias capas de revista como  ELLE França, Vogue Itália e Vogue Austrália.  A moça faz bastante sucesso pras bandas de lá!  E estando completamente dentro desse mundinho da moda, ela disse em entrevista ao site RadarOnline, que “o mundo da moda não muito espaço para profissionais mais cheinhas”  E isso a gente já tem como comprovar: olhe uma revista que fale de moda plus size e se você vestir 58, me diga se essa moda realmente te inclui. 

 
Arquivo pessoal


arquivo pessoal
 
 
Ah! E ela disse mais:
 
“Eu quero que as meninas tenham opções, mas infelizmente se uma modelo plus-size aparece, mesmo sendo incrivelmente bonita e até mesmo se todos os agentes do mundo a quiserem, se ela é um pouco grande, eles pedem para que ela perca peso imediatamente”, 
 
 
Ela continua o desabafo em defesa das modelos curvilíneas:
 
“Se eles encontram uma menina bonita por que não podem aceitá-la como ela é? Por que ela não pode trabalhar com o tamanho que tem? Por que ela tem que ser magra?”
 
 
 
Txo te contar a resposta, moça: Acontece que ser gorda, para a industria da moda, é algo muito ruim…. muito mesmo! Eles preferem você anoréxica e bulímica, do que você gorda! 
Aí até a gordura eles padronizaram. Você é considerada plus size se usa numeração do 40 ao 52 . Números acima disso eles ignoram porque você não existe mesmo, saidaki! Não existe moda plus size mórbida ainda, ok.
 
É sim, de uma crueldade tamanha fazer isso. Ao tempo em que falam “Oie gorda 46, nós da moda te aceitamos, vemk, mas você precisa emagrecer um pouquinho hein colegue?!!” 
Eles dizem também “Óh, você aí do manequim 56, pode sair. Não aceitamos modelos tão gordas; quando emagrecer você pode aparecer para um novo questing, bjaum”
Também são modelos – autoria desconhecida 
 
 
Em contra partida, temos a Tess Munster, que é modelo plus size mas que ninguém vê ela nas passarelas e nem na capa da Vogue ou derivados da moda. Porque será? De certo que não é por conta das tatuagens, né. É por conta do tamanho dela! Isso… ela é muito gorda pra passarela&revista e não emagreceu. Que afronta! Tem muitos ensaios fotográficos lindíssimos espalhados por aí. 
 
 
 
Arquivo pessoal da Tess on Tumblr
 
arquivo pessoal



arquivo pessoal

 

Não menos importantes, são as nossas referências de modelos plus size brasileiras.
A pioneira na passarela acima da média: Fluvia Lacerda. Hoje ela já lançou uma grife que vai do 44 ao 52. 
arquivo pessoal no facebook
arquivo pessoal no facebook



Outra lindeza da moda é a Mayara Russi. Que é a principal garota propaganda da marca de moda gorda Kauê. 
 
Um parágrafo destacado para o que a moça informou ao site Chic – Gloria Kalil
 
“Atualmente, aos 21 anos, vestindo manequim 50, feliz com sua escolha profissional, Mayara pretende pegar carona no efeito Fluvia Lacerda, a modelo GG brasileira mais requisitada no exterior. “Antes, preciso emagrecer. Para realmente emplacar no mercado plus size, você precisa vestir 44/46, não mais do que isso”. 
 
 
 
Modelos brasileiras mais requisitadas: Da esquerda para a direita:Andrea Boschim, Simone Fiuza, Bianca Raya, Mayara Russi e Celina Lulai
Considerando então, toda essa gama de informação, eu constato que: a moda plus size não é para gordas, e sim, para mulher curvilíneas. Ou aquelas que fogem ao padrão mas só até o 46! E não é ironia, desculpem. Essa apresentação de modelagem que é passada para mulheres como se fosse para as gordas, não condiz com a verdade completamente.
 
Acontece que ainda querem que nós, gordas, façamos regime. Querem menos quilos nos nossos corpos, querem nossa fome inexistente; querem que cada vez mais  nosso único objetivo seja: perder peso. Esse é um tipo de policiamento dos corpos. A mídia faz isso com a gente o tempo inteiro. E o tempo inteiro, àquelas que não subvertem essa norma, são rechaçadas e humilhadas por enê veículos midiáticos. Que vai desde a novela que tem uma personagem gorda que é alvo de chacota, até um programa de entretenimento-diverso que coloca uma gorda dançando e avacalha com ela ao vivo. Essas pequenas coisas que estão intrinsecamente ligados ao nosso olhar, que tudo passa batido, e agora  alguém pode me achar uma exagerada que vê preconceito em tudo. É… é essa uma tendência perigosa: naturalizar a violência, o racismo,  a piada, o machismo, a gordofobia.… Todo o câncer da sociedade é amenizado e neutralizado 24hrs por dia. Não é bem assim; não é isso que você está pensando; Calma… nossa moda veste à todas.   Só que não.  
 
E eu não desconsidero todo o efeito benéfico que teve nas lojas, essa moda. Não desconsidero mesmo. Lançar modelos acima da média, estimular grifes a perceberem que tem público para esse tipo de vestimenta, foi muito importante. E espero que um dia reconheçam numerações acima da média escrotamente estipulada.
 
 
Mas esse post não é sobre isso. Esse post não é sobre as mulheres citadas aqui. Esse post não é sobre as roupas que elas vestem. Esse post é sobre como nós, mulheres gordas, somos erroneamente representadas no mundo da moda (que reflete em vários outros campos da vida social, néan). Esse é um post pra dizer que se eu não me vejo eu não compro! E que tem muita mulher que não se enxerga nessas modelos e por isso, passa a correr atrás de atingir um objetivo que ela não tinha traçado pra vida dela antes: vestir a numeração plus size. E a gente já sabe o que significa isso, né? Uso de medicação contra-indicada; excesso de exercícios físicos (prejudica também) ; uso do dedo na garganta, depressão…. e etcétecétera….
 

Esse post é pra dizer que a numeração
plus size não me representa porque eu já passei do plus mas ninguém lembra desse detalhe, de que existem mulheres que usam acima dessa numeração. Esse post é mais um  onde eu encaro a sociedade excludente em que vivo, que quer policiar meu corpo e meus desejos a todo custo.  Mas não vão conseguir.  E eu não sinto muito por isso, grande beijo!