ESTOU CIENTE E QUERO CONTINUAR


Amanhã faço 22. É, vinte e dois anos vivendo neste planeta cagado, bem como todos vocês aí vivem. 
Há menos de 2 anos, me aproximei do feminismo. Está para completar 1 ano que eu mergulhei fundo na militância feminista, pois uma vez dentro: você nunca mais sai. 

Me identificar com esse movimento trouxe muitas coisas boas pra minha vidinha. Arrisco dizer que trouxe a “cor”. Sabe quando tudo anda fora de sentido, de lugar e você não faz ideia do que tá fazendo ali? Pois é. 
Era mais ou menos assim que eu me sentia. Daí fui conhecendo um pouquinho do feminismo aqui, outro pouquinho acolá… Conheci mais um tanto ao longo dos meses… Fui juntando as peças… Daí que tudo começou a fazer sentido. Aí que eu entendi o porquê de achar errada tanta coisa mas não saber de onde elas vinham e o porquê de sua existência. 

Inimigos dirão que é exagero, porém, não… Foi o que aconteceu mesmo. 

Zanele Muholi


Durante esse ano fiquei lendo os “termos de uso” do feminismo. Durante todo esse tempo, eu estava conhecendo melhor esse movimento, me reconhecendo como pertencente dele e identificando as lacunas, os problemas, as faltas e sobras que permeiam o feminismo. 

Bom… Eu diria que assinalei a caixinha de marcação “LI E ACEITO OS TERMOS DE USO”. 
Uma vez isso feito, não vejo muito caminho para voltar atrás e apagar da sua mente tudo o que você já entendeu sobre feminismo e opressão. Sendo assim, vou seguir.

Sei que mil tretas aparecerão ao meu lado esquerdo, mais mil tretas aparecerão à direita. No entanto, eu não penso em deixar tudo isso de lado. Ainda permaneço em constante estado de aprendizado e até mesmo nas tretas, ou principalmente nelas.
Depois entendi a dinâmica de todo esse processo de formação que tem se dado pelas páginas da web, entendi como fazer e como não fazer. Quando responder e quando não responder. Aprendi principalmente a ter empatia pelas outras, pelas outras que não sofrem a mesma opressão que eu. Aprendi a ficar caladinha e só prestando atenção, entendendo e refletindo, pensando onde é que eu enfio essa merdinha de privilégio. Onde é que eu posso ser aliada da melhor forma. Aprendi e fico aprimorando isso todos os dias pra não cair na bobagem de achar que só porque eu sou feminista, estou livre de reproduzir opressão. Isso e balela, gente. 
Se não ficarmos atentas, estaremos lá… repetindo as mesmas merdas que os homens, essa categoria social, fazem com a gente. 


Guardo comigo críticas sobre o feminismo, muitos questionamentos sim. Guardo mais críticas ainda sobre mim, sobre como eu me porto e sobre como eu (re)ajo dentro disso. 
Já comecei a traçar estratégias para expor essas críticas de uma maneira positiva, como forma de crescimento coletivo e aguardo críticas de outras companheiras, sobre as minhas posições. Sempre. Críticas são necessárias pois sozinha eu não dou conta de enxergar tudo porque possuo privilégios e mesmo revendo eles todos os dias, sei que ainda deve ficar alguma coisa pra trás. 
Aquele eterno exercício de.


Photo by: Günter Mosler







Estou ciente e quero continuar porque não posso me dar ao luxo de sentar e esperar pela revolução sem participar efetivamente dela. 

Estou ciente e quero continuar porque ainda há muito pela frente para que todas as mulheres se libertem de suas correntes. 

Estou ciente e quero continuar porque, enquanto uma mulher for prisioneira, eu não serei livre de verdade. 

Estou ciente e quero continuar porque enegrecer o feminismo é necessário e urgente. 

Estou ciente e quero continuar porque o capitalismo e seus derivados opressores continuam destruindo as pessoas, principalmente, aquelas que são lidas socialmente como mulheres. 

Estou ciente e quero continuar porque é genocídio institucionalizado o que fazem com as pessoas negras. Comigo. Com todas as meninas e mulheres. 

Estou ciente e quero continuar porque ainda precisamos de muita coisa para tornar esse feminismo interseccional.

Estou ciente e quero continuar para que outras mulheres encontrem no feminismo, o mesmo apoio que eu encontrei um dia. 

Estou ciente e quero continuar porque as meninas também morrem por odiarem seu corpo. 

Estou ciente e quero continuar porque traz à tona o debate sobre a auto-estima das mulheres numa sociedade onde a mídia nos distorce completamente, me parece no mínimo urgente. 




Estou ciente e quero continuar porque omitindo&negando as nossas falhas enquanto militantes feministas, não chegaremos a lugar algum. É preciso saber lidar com isso da melhor forma e eu suspeito que a melhor forma seja, primeiro: admitindo erros, falhas, deslizes. 

Estou ciente e quero continuar porque a cada ano, os números de feminicídios aumentam consideravelmente e eu não vejo nada acontecer para impedir isso. 

Estou ciente e quero continuar porque a transfobia mata todos os dias. 

Estou ciente e quero continuar porque o machismo e o racismo idem. 

Estou ciente e quero continuar porque a hegemonia branca dos opressores vai acabar e é por isso que eu continuo. 

Estou ciente e quero continuar porque, por mais que a minha mãe e a minha família ainda não entenda tudo que eu faço, isso se torna mais uma descarga de energia para que eu continue, pois assim como eles, existem outras tantas pessoas que não entendem o porque de suas filhas marcharem no meio da rua aos gritos de luta. E essas pessoas precisam saber do que se tratam! Precisam apoiar e participar. 

Estou ciente e quero continuar porque não consigo deixar passar batido existência de violências, em suas várias nuances, contra todas as mulheres. 

Estou ciente e quero continuar porque nunca me deram motivos para desistir. 

Estou ciente e quero continuar porque essa é minha única opção para que a cada dia, outras mulheres possam se empoderar e entrar comigo nessa luta. 





Estou ciente e quero continuar.

 

                                             esse video me renova

4 Comments

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  1. 1
    Márcia Balades

    Estamos juntas Jéssica, penso igual voce, ao atingir o nivel de consciência que o feminismo proporciona, não tem mais volta, posso um dia não estar mais nas ruas, mas serei feminista até o fim. Voltar atrás seria como desaprender. bjs

  2. 2
    Pedro Ferré

    Adorei o post!
    Acho mais do que necessário abrirmos nossos olhos para as diferenças que nos cercam, contentar-se com pequenas conquistas e deixar de lado a luta constante, é burrice. Devemos subir sobre as conquistas e mostrar a todos que os nossos direitos a cada dia vem mais sendo encubados e estereotipados nos moldando tanto quanto marionetes. Não preciso ser mulher para ser feminista, apenas preciso ter a consciência que eu , ela, ele, você e todos as outras pessoas, estão ligadas pelo mesmo sentido: a vida. Nascemos iguais e semelhantes, o corpo é resultado da mente, e quanto mais livre, melhor ! Um Grande beijo Jessíca, adoro você e seu senso critico inabalável !

  3. 4
    Amana Mattos

    Aprendo muito com você, Jessica.
    Não só aqui no blog como na maneira que você interage, discute e se posiciona nos debates na rede. Sempre reflito sobre minhas próprias posições, minha militância. Sobre onde e como estou desatenta para meus privilégios, que são muitos (cis, branca, escolarizada, classe média).
    É isso, feminismo é um caminho sem volta. Bom poder encontrar pessoas como você nessa caminhada…

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