A poesia lésbica marginal existe e resiste!


heroína

*Patrícia Naia

minha cola
minha coca,
a pipa
a polícia
os muleque
neguinha-
chamada mutala
chuta lata
pica esconde,
monta o bonde
na favela.
olha ela,
o nome dela é tal e qual,
bruta flor
do querer de quem?
amável do amor de quem?
não tem medo de ser levada à mal,
tatuou no peito
preconceito racial
sentada na viela
a heroína
marginal,
heroicamente viva
sobrevivente
da puta democra…
instaurada pelos
homens de ferro, que fazem da
cabeça de preta
prêmio.
pé de preto é cinzento
de correr no asfalto e
pra fugir.
ainda mais se você trans… gredir.
nascer preto
é agredir
o *belo padrão social*
e as artes
vomitadas pelos
artistas urubus,
vomitando em pratos de cristais,
considerados,
onde o preto é pintado selvagem
e os brancos
estão no topo da cadeia,
onde o preto apodrece acorrentado.
eu avisei,
a heroína tá descendo do morro,
e
todo preto tem dentro de si
um monte de bomba…
eu quero é ver quando tudo isso aqui explodir.

 


 

*Patricia Naia, estudante de Letras, professora lésbica convicta, feminista, escorpiana ávida com ascendente em touro. nunca quis ser poeta, nasci em SP, e fui adotada por Recife. odeio letras maiúsculas. escrevo para o site Controverso Urbano e para o Anallógicos.

 

*Imagem destacada: by Evelim Dias

1 comment

Add yours

Comments are closed.