#3 compartilhado


 

Há muito tempo quero compartilhar com alguém minha história. Falta coragem, conforto, e exemplo de gente fazendo o mesmo. 

 
Por Marina
Não sei dizer como começou ou de onde veio, mas desde que me conheço por gente sinto um ódio, um desprezo, um nojo por mim mesma. Uma vozinha na minha cabeça dizendo que eu mereço sempre menos, que sou sempre pior. O espelho era um pesadelo, porém passava horas de frente pra ele, chorando, desprezando, muitas vezes dando socos e me machucando da forma que eu podia. Eu tinha nove anos, no máximo. A auto-mutilação veio quase que naturalmente, lá pelos 12, quando na escola eu era chamada de macaca, sapata e outras coisas. Achava desenhos de mim nas carteiras. Me odiar se tornou meu sentimento mais forte.
Eu cresci, ainda bem, e as coisas ficaram mais leves, mas alguns fantasmas ainda me perseguiam. Me apaixonei por uma menina, mas faltou coragem pra assumir pra minha família. É um amor que guardo até hoje.
Aos 15 anos parei de ser Marina e passei a ser namorada de fulano. Passei a seguir suas regras e aceitar suas condições, mesmo que fossem tão diferentes das minhas, não podia fumar, nem beber demais, e sair com as amigas, raramente. Eu achava que eu merecia toda aquela repressão. Aos 16 cansei e foi aí que eu conheci o machismo na sua pior face, a face de alguém que você ama, que você confia. Terminamos e ao invés de voltar a ser Marina virei vadia. Amigos, conhecidos, e fulano, todos me dizendo que eu não prestava, que eu era uma puta, mostrando nojo. Pra alguém que já tem problemas com a sua imagem, imagine só. Uma depressão forte tomou conta de mim e fiquei no quarto sem levantar da cama, comer ou falar por um tempo. Aceitei que precisava de ajuda, procurei. Foi um tratamento, um trabalho, uma luta. Algumas recaídas, mas uma vitória, a maior da minha vida. Eu mudei.
Hoje, não sinto mais nada daquilo que me perseguiu por toda minha vida. Conheci o feminismo e me libertei, conheci a mim mesma, uma nova versão que eu gosto muito mais. Só eu tinha o poder pra fazer isso, pra tomar as rédeas da minha vida e perceber o quanto sou forte, capaz.  Eu nunca pensei que pudesse gostar de mim, da minha imagem, de quem eu sou, mas amor próprio é uma das melhores coisas que já experimentei.