#13 compartilhado


Vestia a roupa que queria, ia pra onde queria, fazia o que desse na telha, falava alto, abraçava todo mundo e me sentia bem. Logo depois conheci mulheres que me mostravam que eu era capaz de tudo, que eu podia e posso tudo que eu quiser. Aprendi que quem faz a minha vida e minha felicidade sou eu.

 

Por Maria 

 

A maioria das pessoas que me rodeiam acham que meus atos de tirar a blusa quando sinto calor, mostrar minha barriga e dizer que a amo, não sentir nojo da minha aparência e amar meu corpo do jeito que ele é não tem nada de político, mas veja só, a maioria delas é cheia de privilégios de ter uma sexualidade à um corpo socialmente louvados e invejados.
Eu já odiei o reflexo da minha silhueta no espelho, nunca sentia que estava magra o suficiente, nunca me achava bonita a ponto dos garotos se interessarem por mim, sempre tive a sensação de ser a maçã podre da cesta de frutas, eu tinha que ser retirada de lá e fui sendo excluída. No colégio, as meninas da minha sala não gostavam de mim, eu sempre tive algo que as incomodava bastante, um corpo gordo. Se alguma delas esbarrasse em mim por qualquer que fosse o motivo, se limpavam, olhavam pra mim como quem olha pra um câncer, com medo, com nojo. Aprendi que eu era digna de nojo e comecei a sentir o mesmo de mim, nojo. Asco. Repugnância.

 

Eu era persona non grata em qualquer espaço social, nunca me cabia, nunca me queriam, se quer me olhavam e quando o faziam passavam reprovação através da expressão facial. Mais ou menos aos 14 anos comecei a manter relações sexuais com homens que conhecia pela internet, porque eu mesma pensava que a vida era isso, a quantidade de picas que adentrassem pela minha buceta ao longo minha vida. Na boca das outras garotas eu era uma puta, gorda e puta. E me puni por isso, fui pra igreja atrás de “perdão”… Eu não sabia que era livre, que era linda, que estava viva e que fazer sexo era normal.
Conheci uma garota quando fiz 15 anos, começamos a namorar em segredo, eu já era gorda, bastava. Ser chamada de sapatão não estava nos meus planos. Namoramos quase um ano, ela me incentivava na bulimia. Emagreci muito, fui apresentada à cocaína e quase bati as botas, tudo pra sempre perder mais e mais peso.
Tive um hiato de 6 meses, internada numa clínica de recuperação.
Quase com 18 anos conheci pessoas que me amavam pelo que eu era, não pelo que vestia, como falava ou o quanto eu pesava. Passei por um processo de autoconhecimento, passei a olhar pro espelho e gostar de quem eu via, gostar da minha pele, das minhas marcas, já tinha me desapegado dos cabelos longos. Abdiquei dos privilégios da feminilidade, dei adeus pras maquiagens impostas pelas garotas da família, dos vestidos justos, das cores de menina, da voz de menina, do jeito de menina. Comecei a falar o que eu queria, ser quem eu queria. Eu estava entendendo o que é ser gorda e feliz.
Vestia a roupa que queria, ia pra onde queria, fazia o que desse na telha, falava alto, abraçava todo mundo e me sentia bem. Logo depois conheci mulheres que me mostravam que eu era capaz de tudo, que eu podia e posso tudo que eu quiser. Aprendi que quem faz a minha vida e minha felicidade sou eu.
Semana passada raspei os cabelos e, nossa, a gente nunca tem noção da gordofobia que uma careca sofre, as pessoas te olham como quem olha pra uma aberração, você é a monstra peluda, careca e gorda que veio das profundezas de tudo que a sociedade detesta e repugna.
Mas, quer saber? Não me importo.
Hoje estou com 20 anos e me amo.
E isso sempre bastará.
(Maria), 04/02/2014.