01 desejo: o jazido patriarcal


Mais um ano. Mais outro ano marcando a luta lésbica e bissexual das mulheres para que sejamos vistas socialmente. Para que sejamos respeitadas e NÃO mais alvos da lesbofobia do machismo da transfobia do racismo da misoginia. Novamente, viemos à tona para o patriarcado nesta data, deixando bem claro – límpido, transparante-, o porquê desse dia:
Patriarcado, nós não nos pretendemos breves, nem meras passageiras. Resistimos, dia após dia, apesar do seu olhar de repulsa, das suas articulações de exclusão de todas as mulheres lésbicas e bissexuais. Mas não, não espere da gente qualquer passo atrás na nossa luta. Nem pense que isso é uma fase e que logo terminará para que você fique livre. Somos dissidentes nesta sociedade que você domina, e esqueça, não vamos compactuar com as suas armadilhas de nos guardar na caixinha, subtraindo nossos corpos e anulando nossas vontades. Sei que isso é o que você gosta de fazer com todas as mulheres…
Mas sinto lhe informar: somos fortes. Seus moldes não nos cabem, e apesar de sermos violentadas por você e pelo exército que formou, continuamos aí.
“Morre uma sapatão hoje? Brota mais 20 amanhã!” Levamos adiante na história a voz daquelas mulheres que você calou. Levamos adiante todas as informações das suas atrocidades cometidas com nossas irmãs, companheiras, mães, amigas, primas para todo o mundo. Não iremos parar!
Sabe, nós somos livres apesar das suas amarras apertarem nossas goelas quando erguemos nossa voz em denúncia. Você faz isso nos momentos mais oportunos, claro… Mas nós somos bem mais espertas que você, Patriarcado, não espere da gente uma reação branda e moderada.

Nós estamos te quebrando, não percebe?

Nós te quebramos quando rejeitamos a heterossexualidade que você impõe ao nosso nascimento e ao longo das nossas vidas, obrigatoriamente; nós o rejeitamos quando seguramos a mão da nossa companheira em plena luz do dia (algo bem simples, não?); nós o rejeitamos quando beijamos outra mulher, quando fazemos sexo – sexo esse que na sua visão, não é sexo verídico porque não tem um homem envolvido; nós o rejeitamos quando saímos às ruas e gritamos palavras de ordem que você, patriarcado, ODEIA e, rapidamente, manda sua corja atrás da gente na tentativa de avacalhar nossas movimentações. Nós o rejeitamos a cada vez que emitimos a palavra SAPATÃO (em afirmação identitária)  bem na sua cara, sem medo e sem vergonha de imaginar que seremos “masculinas” por isso – foda-se o que você vai achar!
Nós o rejeitamos quando decidimos formar uma família, só mãe & mãe. O rejeitamos mais ainda quando demonstramos que conseguimos gerar, parir e criar nossas próprias crianças sem a tal ‘presença paterna’ que você tanto gosta de impor.
Ódio mesmo você deve sentir quando decidimos que NÃO SEREMOS MÃES, PORQUE NÃO QUEREMOS E NÃO VAMOS NOS CURVAR À OBRIGATORIEDADE MATERNA que você também nos proporciona, Patriarcado. Te rejeitamos.
Nós o rejeitamos quando nos fazemos presentes nas políticas públicas deste país, exigindo nossas pautas atendidas como cidadãs de direito; nós o rejeitamos com nossa autonomia de cada dia, que existe e persiste sem homem algum, deixando você furioso né… Nós o rejeitamos quando denunciamos o agressor que acreditou quando você disse que o pau dele seria a cura para a nossa sapatonice.
Nós o rejeitamos quando NÃO nos embelezamos para um outro homem admirar, e sim, para uma MULHER (que pode ser nós mesmas, afinal, você odeia que as mulheres tenham autoestima).
E o que te deixa muito puto, é quando NÃO usamos maquiagem, NÃO usamos as roupas que você pré-determinou pra gente desde cedo… AHHH, você quer nos matar com isso tudo, não? Embora às vezes você mate, mas cá ainda estamos e somos MUITAS!
Entenda Patriarcado: nós queremos a sua absoluta abolição. E nós vamos conseguir. A cada dia, cada vez que uma mulher se da conta da sua lesbianidade e permite viver tal qual se sente bem, isso causa um pouquinho da sua destruição. A cada vez que uma mulher descarta suas amarras e subverte suas regras, mais um pouquinho da sua estrutura balança e caquinhos dela vão ao chão, como um espelho em queda brusca.
Nosso aviso prévio é esse. A sua heteronormatividade está com os dias contados. Espero que você se acostume com isso porque A REVOLUÇÃO DAS SAPATÃO JÁ FOI INSTALADA!
29 de Agosto. O dia em que mais e mais lésbicas tem conhecimento umas das outras. O dia no qual o patriarcado se arde de raiva por ver/ler/saber e ouvir da nossa existência lesbiana-bissexual-voraz.
Dia este que não precisará mais de um título, em breve, porque: AQUI JAZ O PATRIARCADO E SUAS OPRESSÕES.
 
 
 
 
Att,
gorda e sapatão